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domingo, 15 de novembro de 2015

Decálogo comentado do texto “De examinar para avaliar, um trânsito difícil, mas necessário”

Decálogo comentado do texto “De examinar para avaliar, um trânsito difícil, mas necessário”, que tenta fazer com que os professores passem a adotar a atividade de avaliação em detrimento do atividade de apenas examinar os resultados das provas.


“Para termos resultados novos no processo de ensino-aprendizagem em nossas escolas são necessários hábitos novos e estes, por sua vez, exigem novas aprendizagens, como também novas condições para exercitá-las. A transição dos hábitos de examinar na escola para os hábitos de avaliar exige atenção constante, pois que os primeiros estão profundamente arraigados em nossa história, em nossa sociedade e na personalidade pessoal de cada um de nós.” (p. 67)

Essa mudança nos hábitos é difícil, mesmo que seja para melhorar o processo de educação, pois para mudar os hábitos de uma hora para outra dá muito trabalho, ainda mais que ele exige muito empenho e dedicação por parte do educando.

“Tem sido difícil, para nós educadores, transitar dos hábitos relativos aos exames escolares para hábitos relativos à avaliação. As razões que geram essa dificuldade podem ser sintetizadas em três temas: (1) as contribuições da história da educação (os exames escolares que conhecemos hoje foram sintetizados com a emergência da modernidade, no século XVI), (2) o modelo de sociedade no qual vivemos (o modelo burguês de sociedade, em sua constituição, é excludente, característica reproduzida pelos exames escolares), (3) a repetição insconsciente do que ocorreu em cada um de nós, ao longo de nossa vida escolar.” (p. 67-68)

Como podemos notar, os hábitos relativos ao modo de examinar são enraizados em três temas: a história da educação, o modelo de sociedade e a nossa experiência escolar. Então esse modelo de examinar está tão presente em nós, na história e na sociedade, pois isso a dificuldade de mudar para hábitos relativos à avaliação.
“Primeiro, a história da educação nos aprisiona. No que se refere à avaliação da aprendizagem, nós educadores temos estado aprisionados a padrões de compreensão e de conduta que vem de séculos passados; minimamente, do início da modernidade para cá.” (p. 68)

Estamos apenas repetindo o modelo de “avaliação” que é usado desde muito tempo atrás.

“A escola é uma dessas instituições e os exames um desses recursos. Os exames escolares, da forma como existem hoje, desde que foram sistematizados no século XVI, carregam uma carga de ameaça e castigo sobre os educandos, cujo objetivo é pressioná-los, para que disciplinadamente estudem, aprendam e assumam condutas, muitas vezes, além de externas a eles mesmos, também aversivas. O disciplinamento – não a disciplina (essa tem dimensão muito diversa do disciplinamento) – cria o controle, na maior parte das vezes, aversivo e imposto, sobre os educandos. A permanência desse modo de uso dos exames escolares criou, ao longo dos cinco séculos da modernidade, um padrão de conduta arraigado no modo de conceber e agir dos educadores.” (p. 68)

Então, o exame ter um certo “poder” sobre os alunos, os educadores usam este “poder” para obrigarem os alunos a estudarem e também serem disciplinados.

“Cinco séculos constituem um período de tempo bastante longo para que desejemos mudá-lo rapidamente, como em um passe de mágica. A história da educação moderna nos aprisiona, pois, no modelo examinativo no que se refere ao acompanhamento da aprendizagem dos educandos na escola.” (p. 68)

Como podemos notar, o atual método de avaliação está presente nas escolas há tanto tempo, que a sociedade até acha que este seja o melhor método de avaliar, então esta mudança de hábitos será muito lenta.

“Segundo, o modelo social. Por trás dessa longa vivência histórica dos exames escolares, que está arraigada em nossa condutas e nos aprisiona, há o segundo fator que dificulta a mudança: o modelo de sociedade vigente na modernidade, que é excludente.” (p. 69)

Então, para um modelo de sociedade excludente, existe um método de avaliação excludente também, que classifica os alunos e seleciona somente os com melhor desempenho.

“Terceiro fator, a experiência biográfica de cada em de nós educadores. Este fator atua fortemente na constituição e manutenção da resistência ao trânsito do ato de examinar para o ato de avaliar. Durante nossa vida escolar pregressa, fomos excessivamente examinados, o que quer dizer “ameaçados com os exames escolares”. Agora, nos tornamos educadores e, então, replicamos junto aos nossos educandos aquilo que aconteceu conosco: “fomos examinados, agora examinamos”. E, repito, não é por má vontade que os educadores agem assim. A frase acima está inscrita em nosso inconsciente, não no nosso consciente; e, de lá, atua de modo automático. Dada uma situação específica, o modo examinativo de agir dispara por si mesmo, automaticamente. Da forma como fomos examinados, examinamos! Romper com esse modo de agir exige consciência, atenção e cuidados permanentes, até que consigamos mudar nossos velhos hábitos.” (p. 70-71)

Como sempre vivenciamos com este modelo de avaliação, então achamos tão natural para nós e qualquer outro método de avaliação para nós soa estranho então, quando nos tornamos educandos procuramos repetir o método de avaliação que vivenciamos a vida toda.

“Assim sendo, educadores que desejam efetivamente atuar pedagogicamente, servindo-se dos recursos da avaliação da aprendizagem necessitam de assumir consciência clara de que estão rompendo com o modelo social excludente (a avaliação é inclusiva), com cinco séculos de história de educação (os exames escolares foram sistematizados no século XVI e a avaliação da aprendizagem no século XX), assim como os próprios fantasmas internos adquiridos ao longo de sua vida pessoal e escolar (os medos e as ansiedades que passamos não devem ser argumento suficiente para que também geremos o medo e a ansiedade junto aos nossos educandos).” (p. 71)

Então, quem deseja mudar para os hábitos de avaliação de aprendizagem devem ter a consciência de que a mudança não é somente em nós, mas também na sociedade, e que devem receber muita resistência por parte da sociedade conservadora.

“Para transitar do ato de examinar para o ato de avaliar na escola, necessitamos de proceder a uma metanoia, termo grego que significa conversão. Conversão, aqui, não tem nada a ver com “conversão religiosa”; tem a ver, sim, com ultrapassagem de conceitos e modos de agir que já não mais nos auxiliam em nosso caminhar pela vida e pela atividade profissional. E, aqui volta, a compreensão do que insanidade para John Hunter: insano é querer obter resultados novos com hábitos antigos. Para se obter resultados novos, são necessários modos novos de agir.” (p. 71)

Precisamos mesmo ter essa conversão, mesmo que seja difícil no começo, mas é um ato que será de um bem maior  para a escola e para se ter um ensino com mais qualidade.

“Avaliar é um ato subsidiário da obtenção de resultados positivos com nossa ação. Ninguém de nós, em sã consciência, age para obter insucesso. Todos desejamos sucesso. Por que, então, na prática educativa, nos contentamos com o fracasso de nossos educandos; ou, pior ainda, ficamos felizes, quando geramos esse fracasso com as provas desnecessariamente complicadas que elaboramos e aplicamos em nossos educandos? A avaliação subsidia, em qualquer atividade humana, o resultado bem-sucedido.” (p. 71-72)

Então, os educandos que realmente desejam ver o sucesso dos seus alunos deveriam repensar suas formas de examinar e mudar para formas de avaliação que busquem sempre ter resultados positivos no processo de ensino-aprendizagem.


Referência:
LUCKESI, Cipriano Carlos. De examinar para avaliar, um trânsito difícil, mas necessário. In: LUCKESI, Cipriano Carlos. Avaliação da aprendizagem escolar: estudos e proposições. 22. Ed. São Paulo: Cortez, 2011, p. 67-72. 

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