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domingo, 15 de novembro de 2015

Fichamento comentário do texto “Uma polêmica em relação ao exame”

Fichamento comentário do texto “Uma polêmica em relação ao exame” que tenta mostrar quais os problemas que enfrentamos com o exame, que é amplamente usado na nossa sociedade.


“O exame se converteu num instrumento no qual se deposita a esperança de melhorar a educação. Parece que tanto autoridades educativas como professores, alunos e a sociedade consideram que existe uma relação simétrica entre sistemas de exames e sistema de ensino. [...]” (p. 51)

Então o sistema de exame é tratado como o sistema de ensino e cria-se a ilusão de que melhorando o sistema de exame também irá melhorar o sistema de ensino.

“Um dos pontos onde a política educativa adquire concretude é o problema do exame. A nova política educativa – de corte neoliberal – responde aos postulados de racionalidade que impõe a conjuntura da crise econômica. Seus fundamentos conceituais são expressos através de noções como: qualidade de educação, eficiência e eficácia do sistema educativo[...]” (p. 52-53)

Com essa nova política de cortes orçamentários decorrentes da crise, afeta também o sistema educacional, que agora tem menos recursos para usar na educação e isso implica numa redução da qualidade de ensino.

“A partir da instauração de uma política educativa de corte neoliberal buscam-se justificativas “acadêmicas” que permitam fundamentar a restrição do ingresso à educação. [...] Por outro lado, são estabelecidos instrumentos que legalizam a restrição à educação: este é o papel conferido ao exame. [...]” (p. 54)

Com a redução do orçamento para a educação, então uma conseqüência é a restrição do acesso à educação e começa o método de seleção, onde os melhores são selecionados, então o exame aparece como instrumento de classificação.

“[...] é natural pensar que depois de uma aula os estudantes devem ser examinados para valorar se adquiriram o conhecimento apresentado. [...]” (p. 55)

Esta forma de classificação dos estudantes está tão presente que todos achamos que é a forma certa de verificar se o aluno aprendeu.
“[...] existem inúmeras evidências de que antes da Idade Média não existia um sistema de exames ligado à prática educativa. [...]” (p. 55)

Então, o exame é uma prática da sociedade moderna, que agora precisa selecionar os melhores.

“Se o exame não é um problema ligado historicamente ao conhecimento, é um problema marcado pelas questões sociais, sobretudo aquelas que não pode resolver. Assim, o exame é na realidade um espaço de convergência de inúmeros problemas. [...] Podem ser sociológicos, políticos e também psicopedagógicos e técnicos. [...]” (p. 56)

Como podemos perceber, o exame nem sempre existiu na educação, ele foi criado para tentar resolver problemas da nossa sociedade.

“Desta maneira, o exame aparece permanentemente como um espaço super-dimensionado. [...] É observado pelos responsáveis pela política educativa, pelos diversos diretores das instituições escolares, pelos pais de família, pelos alunos e finalmente pelos próprios docentes. [...] todos estes grupos coincidem em termos globais em esperar que através do exame se obtenha um conhecimento “objetivo” sobre o saber de cada estudante.” (p. 56-57)

Então, podemos ver que o exame é importante para várias pessoas ligadas à educação, pois nele se deposita o “poder” de avaliar o conhecimento do aluno.

“Uma das funções atribuídas ao exame é determinar se um sujeito pode ser promovido de uma série para a outra. Sob esta ideia central aparecem outras duas funções: permitir o ingresso de um indivíduo em um sistema particular (caso de exame de admissão) ou legitimar o saber de um indivíduo através da certificação de um título profissional.” (p. 58)

Podemos ver que o exame foi inserido em várias etapas do processo educacional, desde o ingresso do aluno até a sua saída, com a obtenção da certificação.

“[...] Os problemas de ordem social: possibilidade de acesso à educação, justiça social, estratos de emprego, estrutura de investimento para o desenvolvimento industrial etc., são transladados a problemas de ordem técnica: objetividade, validade, confiabilidade. [...]” (p. 59)

Já que os problemas agora tem uma dimensão científica, então a ciência passa a buscar métodos de aumentar a objetividade, validade e confiabilidade dos exames.

“[...] Sua função consiste em ser a última parte do método que pode ajudar a aprender. Portanto, através do exame não se decide nem a promoção do estudante nem sua nota. Esta não existe até o século XIX. [...]” (p. 60)

O exame então, estava tão inserido dentro do processo de ensino/aprendizagem e não servia para medir o quanto ele aprendeu.

“A transformação operada neste século: promover e qualificar o desempenho estudantil através do exame. Por um lado, separou o exame da metodologia. O exame deixou de ser um aspecto do método ligado à aprendizagem. Por outra parte, perverteu a relação pedagógica ao centrar os esforços de estudantes e docentes apenas na certificação. [...]” (p. 61)

Aqui o exame deixa de ser parte do processo de ensino e passa a ter um caráter de medir o desempenho dos estudantes.

“[...] Com o aparecimento da novas funções do exame: certificar e promover, quando existe uma dificuldade de aprendizagem, os professores e as instituições (caso do exame departamental) aplicam exames.” (p. 61)

Então, o exame é usado para medir o conhecimento e com isso certificar e promover o aluno.

“A partir de toda esta situação se estruturou a pedagogia do exame. Uma pedagogia articulada em função da certificação, descuidando notoriamente dos problemas de formação, processos cognitivos e aprendizagem. [...]” (p. 62)

A pedagogia passa então a preparar o aluno para passar nos exames, pois pensava-se que o exame era quem dizia se o aluno aprendeu ou não.

“[...] De fato, em nosso século, a pedagogia deixará de referir-se ao termo exame, o substituirá por teste (que aparentemente é mais científico) e posteriormente por avaliação (que tem uma suposta conotação acadêmica).” (p. 63)

Podemos ver que o processo de verificação de aprendizagem fica cada vez mais a cargo da ciência, tornando então o processo cada vez mais técnico.

“Os estudos para medir a inteligência desembocaram rapidamente numa teoria de testes. O teste foi considerado como um instrumento científico, válido e objetivo que poderia determinar uma infinidade de fatores psicológicos de um indivíduo. Entre eles se encontram a inteligência, as atitudes, interesses e a aprendizagem.” (p. 64)

Mais uma vez a ciência desenvolve maneiras de medir o conhecimento das pessoas e assim poder usar isto a favor de seus propósitos.

“[...] Eram empregados na seleção das forças armadas, no conjunto social e nas escolas. [...]” (p. 64)

Já que agora o conhecimento pode ser medido, então ele pode ser usado também para selecionar os indivíduos.

“[...] teoria dos testes de inteligência para determinar que os sujeitos sociais marginalizados (negros, presidiários, prostitutas) possuíam um coeficiente intelectual abaixo do normal. [...]” (p. 65)

Aqui o teste está sendo usado como uma forma de marginalização social contra negros, presidiários e prostitutas.

“[...] Em 1922 o presidente da Universidade de Colgate sustentou que unicamente quinze por cento da população tinha inteligência suficiente para ingressar no College. [...]” (p. 66)

Agora o teste está sendo usado para selecionar os melhores, e os que forem considerados inaptos são deixados de fora por estas instituições.

“[...] A partir deste debate se estabelecia que alguns estudantes mereciam receber educação em virtude de uma qualidade congênita: a inteligência. [...]” (p. 67)

Aqui aparece um novo indicador, que é a inteligência, e agora as pessoas são classificadas pela sua inteligência.

“Especialistas em avaliação chegaram a afirmar que enquanto o exame “tradicional” era caseiro e subjetivo, a prova objetiva (isto é, construída em função da teoria do teste) era válida e objetiva. [...]” (p. 68)

Alguns especialistas defendem que o método de avaliação por exame é mais eficiente do que o método “tradicional”.

“[...] Deixou-se de analisar os problemas da educação e da didática desde as perspectivas da formação e da aprendizagem. O debate em relação ao exame se converteu num debate técnico centrado em problemas tais como: construção de provas, tipos de prova, validação estatística do exame e atribuição estatística de notas.” (p. 70)

Então, os debates aqui são em torno do exame e de outras formas de medir o conhecimento e não mais das formas de ensino e didática.

“[...] Os sintomas foram tratados com o status de problema e a eles se aplicou uma resposta técnica. Desta maneira emergiram novas especialidades educativas para as quais foi preciso dar capacitação. Entre elas se destacam: avaliação, sistematização, currículo, estratégias de instrução.” (p. 71)

O que vemos aqui é a divisão do ensino/aprendizagem em áreas menores numa tentativa de resolver os problemas da educação.

“[...] Assim, no século atual, o debate sobre o exame transitou em direção aos testes e recentemente se fincou no termo avaliação.” (p. 72)

Mudaram-se os nomes, mas todos tem o mesmo objetivo que é o de medir o conhecimento.

“[...] Nunca se analisou a possibilidade de medir uma qualidade (aprendizagem) em permanente evolução e transformação no sujeito. [...]” (p. 72)

Isso de deve ao fato de os métodos de avaliação serem quantitativos e buscarem apenas verificar o quanto de conhecimento o aluno conseguiu absorver.

“Desta forma a avaliação educativa paulatinamente adquiriu o status de um campo técnico próprio. Esta segmentação do trabalho educativo é o resultado de uma pedagogia industrial que se rege pelos princípios da divisão técnica do trabalho. [...]” (p. 73)

Então, há uma divisão do processo de ensino/aprendizagem em várias áreas independentes e cada uma com o seu propósito.

“Afirmamos que os especialistas em avaliação da aprendizagem em geral não têm uma formação sólida. Isto explica por que em alguns casos médicos, engenheiros e outros variados profissionais se dedicam a este tema.” (p. 74)

Como vemos, pessoas das mais diversas profissões são colocadas na tarefa de avaliar, o que é um erro, pois estas pessoas não conhecem a realidade do ambiente escolar.

“[...]  “Mede igualmente a todos os alunos em forma objetiva. É um elemento para a unicidade dos programas”(ibidem). Obviamente esta objetividade se consegue quando a atribuição de notas é ajudada pelo computador.” (p. 75)

O que também é um erro, pois os alunos são diferentes na hora de aprender.

“[...] A tarefa educativa não deve contribuir para formar estudantes com pensamento próprio, senão estudantes que mostram o repertório de condutas que tem sido preestabelecidas como modelo de aprendizagem. [...]” (p. 75)

O que os estudantes fazem são apenas decorar e repetir o que o professor ensina, próprio da pedagogia tradicional.

“[...] As deficiências nos métodos de ensino, na seleção dos conteúdos, na aquisição de bibliografia e nos hábitos do trabalho intelectual dos estudantes se resolverão por meio do exame. [...]” (p. 76)

Estão colocando muita responsabilidade em cima do exame e se esquecendo que ele é apensa uma parte do processo de ensino/aprendizagem.

“[...] Estas traições giram desde as diversas fraudes que se realizam em relação ao exame(copiar do companheiro, levar anotações para o exame), até formas muito mais sutis mas não menos eficazes, tais como dar aula em função do exame preparado.[...]”  (p. 76)

A prática do exame leva alguns alunos a realizar fraudes na tentativa de melhorar a sua nota.

“[...] Desta forma, a ação na aula se converte em uma ação perversa em seu conjunto: os professores só preparam os alunos para resolver eficientemente os exames e os alunos só se interessam por aquilo que representa pontos para passar no exame.” (p. 77)

Então a única preocupação entre alunos e professores é que os alunos consigam tirar uma boa nota.

“[...] Necessitamos recuperar a sala de aula como espaço de reflexão, debate e organização de pensamentos originais. Uma vez alcançado isto o problema do exame será totalmente secundário.” (p. 78)

O que não acontece na pedagogia do exame, pois a maior preocupação é em reproduzir exatamente o que o professor ensinou.

“[...] Por isso pode-se afirmar que a atribuição de notas não responde a um problema educativo nem está forçosamente ligada à aprendizagem. Sua tarefa se aproxima mais do poder e do controle.” (p. 78-79)

As notas estão ligadas mais na tentativa de resolver problemas de ordem social.

“[...]”o que posso afirmar de um aluno que responde corretamente uma pergunta de geografia é que responde essa pergunta.” Daí chegar à conclusão que se sabe geografia não é algo que se infere logicamente. [...]” (p. 79)

Então, não é uma nota que vai dizer se o aluno sabe ou não sobre um determinado assunto.

“Tampouco a contratação de quem terminou seus estudos depende de suas notas, pois, tal como mostram diversas teorias econômicas – mercado segmentado, conflito pelo status, correspondência – (ver: GÓMEZ, V. Op. Cit.) a obtenção de um emprego obedece a fatores totalmente independentes do processo escolar.” (p. 82)

Isso cria indivíduos cada vez mais individualistas, pois apenas os melhores são selecionados e terão um futuro melhor.

“Podemos concluir que a pedagogia, ao preocupar-se tecnicamente com os exames e notas, caiu numa armadilha que a impede de perceber e estudar os grandes problemas da educação.” (p. 82)

A pedagogia deveria se preocupar mais com a qualidade de ensino e não dar tanto valor aos exames e às notas.


Referência:

BARRIGA, Angel Diaz. Uma polêmica em relação ao exame. In: ESTEBAN, Maria Teresa (Org.). Avaliação: uma prática em busca de novos sentidos. 5. Ed. Rio de Janeiro: DP&A, 2003, p. 51-82. 

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