Síntese do texto - Avaliação escolar e democratização: o direito de errar, que fala sobre uma escola mais democrática e que usa o erro como uma forma de melhorar o processo de ensino.
Avaliação escolar e democratização: o direito de errar
Avaliação escolar e democratização: o direito de errar
“[...]
enfrentar o desafio histórico de democratizar a educação supõe,
necessariamente, olharmos criticamente a escola. Para além dos condicionantes
de natureza estrutural do Estado brasileiro, o fracasso escolar, há muito
evidenciado e denunciado [...]” p.125
“[...]
a avaliação que, tal como vem sendo tendencialmente compreendida e vivenciada
na escola, constitui-se, essencialmente, em um instrumento de legitimação do
fracasso escolar. Utilizada como meio de controle das condutas educacionais e
sociais dos alunos, tem servido a uma prática discriminatória que acentua o
processo de seleção social.” p.126
Para que
avaliação escolar?
“[...]
a avaliação um meio de gerar informações sobre o processo educacional, que se
pauta por um referencial valorativo, apoiando decisões sobre as intervenções e
re-direções necessárias para a concretização do projeto político-pedagógico.”
p.127
“[...]
avaliação como uma pratica de investigação do processo educacional, como um
meio de transformação da realidade escolar. ”
“Avaliar
o contexto escolar ultrapassa a apreciação do desempenho dos alunos, que deve
ser analisado de modo relacionado com o desenvolvimento do professor e as
condições da escola. ”
“[...]
avaliação escolar possibilita a identificação das dificuldades, dos sucessos e
fracassos, apoiando encaminhamento e decisões sobre as ações necessárias, sejam
elas de natureza pedagógica, administrativa ou estrutural.”
“[...]
avaliação da aprendizagem do aluno [...] é diagnosticar e estimular o avanço do
conhecimento. Seus resultados devem servir para orientação da aprendizagem,
cumprindo uma função eminentemente educacional. ”
“[...]
avaliação tem-se confundido com procedimentos de medida, de verificação do
rendimento escolar, que resultam na atribuição de um conceito ou nota ao aluno,
tomados como referências para decisão quanto à promoção ou não a serie ou ciclo
subsequente. Os resultados constatados por meio dos procedimentos de testagem
não são interpretados com vistas a gerarem possíveis alterações ou
redirecionamentos nas propostas de trabalho delimitadas no inicio da serie ou
ciclo, não se traduzindo, portanto, em decisões e práticas viabilizadoras do
aprimoramento do trabalho escolar.” p.128
“A
aprovação/reprovação ganha centralidade nas relações entre professores e alunos
e pais, sendo o foco de suas preocupações não a aprendizagem [...]” p.128-129
“dentre as
funções da avaliação, [...] a classificação do aluno, [...] é a menos
enfatizada, sendo ressaltadas como funções básicas:
·
Diagnosticar:
caracterizar o aluno ao que diz respeito a interesses, necessidades,
conhecimentos e/ou habilidades, previstas pelos objetivos educacionais
propostos, e identificar causas de dificuldades de aprendizagem;
·
Retroinformar:
evidenciar os resultados alcançados ao processo ensino-aprendizagem, apoiando o
replanejamento do trabalho com base nas informações obtidas;
·
Favorecer
o desenvolvimento individual: atuar como atividade que estimula o crescimento
do aluno, no sentido de que se conheça melhor e de que se desenvolva a
capacidade de auto avaliar-se.
[...] a
avaliação constitui-se em facilitadora do processo de autoconhecimento e
desenvolvimento do aluno. ” p.129
“[...]
da forma como vivenciada em nossas escolas, tais propósitos, se não ausentes,
são secundários, pois assume centralidade a função classificatória da
avaliação. ”
“[...]
avaliação tem sido utilizada, em geral, como instrumento de controle e
adaptação das condutas educacionais e sociais do aluno. [...] trabalha-se com o
aluno na direção da submissão e adequação a padrões e normas comportamentais,
sendo punidos os alunos ”desobedientes” com baixos conceitos, que podem leva-lo
à reprovação ou até ao convencimento de que é incapaz de adaptar-se à escola,
que “não tem cabeça pra estudar. ”
“A
avaliação como instrumento usado para a discriminação torna-se improdutiva
pedagogicamente e injusta socialmente.” p.130
A avaliação em
transformação
“[...]
quando discutimos com professores o significado dominante das práticas
avaliativas, denunciando as concepções de ensino, aprendizagem, educação [...] ouvimos
manifestações do tipo: “tudo bem, isso nós já sabemos. Interessa-nos saber o
que fazer para mudar, principalmente porque isso não depende só de nós. Como
lidar com os alunos e com os pais, que vêem qualquer modificação introduzida na
avaliação como afrouxamento das exigências da escola? É difícil mudar!”” p.131
“Não
basta tomar conhecimento das críticas que são feitas, é preciso construir, a
partir delas, a própria análise e reflexão, individual e coletivamente, na
escola; o que se desencadeará quando existir, de fato, um compromisso com uma prática capaz de promover permanência,
terminalidade e ensino de qualidade para todos. A existência desse compromisso
é condição necessária para um redirecionamento do significado da avaliação
escolar [...]”
“O
educador pode ler um texto que critica o uso autoritário da avaliação,
concordar com ele e continuar com o mesmo tipo de avaliação. A conscientização
é um longo processo de ação-reflexão-ação; não acontece ‘de uma vez’ [...].
Quando se tenta mudar o tipo de avaliação é que se pode ter a real dimensão do
grau de dificuldade da transformação, bem como do grau de conscientização do
grupo de trabalho. As ideias se enraízam a partir da tentativa de colocá-la em
prática.” p.132
“[...]
quando caracterizamos as práticas avaliativas na escola, insistimos em usar a
expressão “tendência dominante”. Isto porque a escola não é um bloco
monolítico, homogêneo, observando-se em seu cotidiano concepções e práticas que
se contrapõem a essa tendência. Na busca de transformação da avaliação, não é
possível pensar em buscar um “novo modelo”, pronto e acabado, para ser
“aplicado”. Um caminho promissor é possibilitar a explicitação e análise das
diferenças e divergências, com vistas à construção de um projeto coletivo de trabalho,
que se paute pelo compromisso com a qualidade de ensino para todos.” p.133
Da avaliação
tecnoburocrática para a avaliação democrática
“[...]
re-significar o processo avaliativo impõe novas respostas ao “para que” e o
“por quem” as informações serão produzidas e utilizadas, rompendo com uma
prática burocrática. O desafio é buscar a superação de uma concepção de
avaliação que se traduz na classificação dos alunos e no controle de seus
comportamentos, [...], em direção a uma avaliação que tem como finalidade
contribuir para o processo de apropriação e construção de conhecimento pelo
aluno, [...]” p.134
“É
de grande importância a observação que o professor faz das manifestações dos
alunos, de sua interação em sala de aula e na escola. Observação esta que não
deve se limitar aos objetivos e expectativas pré-definidos pela escola como
“desejáveis”, mas que deve estar “aberta” para apreender as interações
peculiares de cada aluno com o trabalho escolar. ”
“Propiciar
ao aluno uma análise de sua própria produção, a partir da crença em sua
possibilidade de aprender, é uma das importantes funções do processo
avaliativo. ” p. 135
“A
superação do caráter burocrático da avaliação está dada pelo uso que se fizer
das informações produzidas sobre o desempenho escolar dos alunos, por meio dos
procedimentos de testagem, auto-relato e observação. ”
“Trata-se
de avaliar não para selecionar, mas para possibilitar a todos os alunos o
conhecimento crítico e criativo, [...]”
“A
ação que entendo construtiva não é a de negar o valor da avaliação da
organização escolar, [...], mas a de reconhecer a necessidade de sua
implementação como condição mesma da democratização do ensino. ” p.136
Referência
CARVALHO, José Sérgio
Fonseca de. Avaliação escolar e democratização: o direito de erra. In: AQUINO,
Julio Groppa (Org.). Erro e fracasso na
escola: alternativas teóricas e práticas. São Paulo: Summus, 1997,
p.125-137.
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